LADRÕES DE CARTEIRAS
Esta é uma pequena e ligeira crónica em que vou falar de ladrões de carteiras, não dos legalizados, mas daqueles que arriscam a liberdade para conseguirem umas notas, uns trocos, sabem eles para quê.
Embora, felizmente para mim, a minha experiência seja muito limitada, vou atrever-me a tentar uma generalização dizendo que a classe dos ladrões, à semelhança de algumas outras classes profissionais, tambem se tornou "rasca", sem ética nem princípios.
Esta generalização é de facto arriscada tanto mais que a vou fazer através de apenas dois casos que se passaram comigo. Mas tambem hoje em dia muita gente diz e escreve coisas sem cuidar de fazer a prova da sua generalidade e eu, erradamente, vou fazer o mesmo.
Há muitos anos, numa viagem de Metro em Lisboa, foi-me roubada a carteira do bolso interior do casaco.
O furto foi efectuado quando eu ia a saír na paragem pretendida e devo dizer que não foi perfeito. De facto ao achar-me no cais tive a sensação de ter sido tocado nas costas ao deslocar-me entre as pessoas para a porta da carruagem e lembrei-me de levar a mão ao bolso do casaco. Claro que a carteira tinha desparecido! Não pude tentar recuperá-la porque entretanto o comboio tinha-se posto em marcha.
Tentando lembrar-me de algum passageiro que tivesse ar suspeito, não consegui vizulizar mentalmente nenhum nessas condições: todos me pareceram normalíssimos utentes do Metro.
Fui à Polícia e aconselharam-me a esperar uns dias, antes de começar a tratar da documentação perdida, pois era corrente um ladrão sério ficar com o dinheiro e pòr a carteira num marco do correio.
Na realidade assim sucedeu : passados uns dias recebi um telefonema da Polícia pois a carteira tinha aparecido e estava nos Perdidos e Achados.
Concluí deste episódio que : i) o ladrão tinha formação profissional, pois andava vestido de forma a não dar nas vistas, executava o seu golpe na altura ideal e dispunha duma técnica quase perfeita; ii) tinha os seus princípios ou a sua ética, pois não pretendia prejudicar ou dar trabalho à sua vítima, limitando-se a ficar com o dinheiro; e iii) era corajoso pois a coisa podia correr mal e ser apanhado em flagrante.
Recentemente roubaram-me uma maleta, com a carteira e documentos , da bagageira do carro. Penso que tive culpa no sucedido pois devo ter deixado a tampa da mala do carro mal fechada e no sítio escuro ( era noite ) onde o carro estava estacionado foi fácil ao ladrão, en passant, surripiar a dita maleta. Não havia o mínimo sinal de arrombamente e a tampa ainda estava mal fechada
Penso que não foi preciso muita (ou nenhuma) coragem para efectuar o roubo.
Mesma sequencia que anteriormente : fui à Polícia partipar o roubo, tomaram nota e disseram-me para aguardar alguns dias pois poderia ser que os documentos aparecessem
Mas não apareceram! E concluí que, contrariamente ao outro ladrão, este não tinha tido necessidade de formação profissional, não tinha consideração pela trabalheira que iria causar à sua vítima, não tinha tido necessidade de ser corajoso !
Apeteceu-me dizer "sinais dos tempos" como diriam os antigos, mas limitei-me a tirar para mim próprio a conclusão/generalização de que falei acima .
Posso terminar com q.e.d. ou não ?
F. Fonseca Santos

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