quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A DEMOCRATIZAÇÃO DA ECONOMIA

Na sua mensagem de Natal de 2011 o nosso PM ( Pedro Passos Coelho ) declarou que entre os objectivos das reformas estructurais que o governo ia levar a cabo estava a "democratização da economia" .  E sobre o que seria isso deu uns esclarecimentos vagos ( ver a notícia no jornal Público ou noutros ) .
Na realidade a expressão foi mal usada ( como em tempos a do "capitalismo popular" ) pois não creio que o PM, nem os seus apoiantes o permitiriam, queira "democratizar a economia". no sentido etimológico e literal da expressão
"Democratizar a economia" seria passar a administração da economia para o Povo ou para os seus legítimos representantes. Ou seja os proprietários das empresas deixariam de as poder administrar e seria o Povo através dos seus representantes a fazê-lo ! Se isso acontecesse estariamos estranhamente a assistir a uma revolução comunista levada a cabo por um governo de direita ( ainda para mais neo-liberal ). Pensando melhor talvez não fosse assim tão estranho pois já assistimos a uma revolução capitalista levada a cabo por um governo comunista.
Mas para prosseguir esta análise semântica das intenções do PM, vamos imaginar que se pretendia manter
a livre iniciativa e a chamada economia de mercado. Como seria possivel "democratizar a economia" ?
Que modificações seria necessário introduzir ? Não consigo imaginar todas, mas posso sugerir algumas :
- O conselho de administração das empresas teria administradores nomeados pelos seus trabalhadores em 
  pé de igualdade com os nomeados pelos accionistas
- Os lucros, se os houvesse, seriam distribuidos proporcionalmente ao valor do capital investido e ao custo
  do trabalho
- Os prémios de desempenho seriam estendidos a todos os funcionários, desde o presidente do CA ao
   menos qualificado dos trabalhadores
- Qualquer cidadão que apresentasse um projecto válido deveria ser apoiado pela banca
- Deveria ser inventado um mecanismo através do qual o Povo decidiria que produtos ou serviços era  
  ncessário pôr à disposição dos cidadãos e em função disso criar as empresas necessárias
- As remunerações do trabalho continuariam a ser diferenciadas, mas o leque salarial seria grandemente
  apertado
- A especulação financeira seria proibida, embora se admitisse a continuação da existência de bolsas de
  fundos e de mercadorias
- etc.
Mas o ideal, o ideal mesmo, seria que cada português fosse um empresário! Acabava-se a luta de classes.
 ( ou talvez não : lembrem-se do espantoso número " Olivia patroa, Olívia costureira" desempenhado pela
falecida (grande ) actriz de teatro Ivone Silva )


P.S. ( quero dizer post-scriptum ) : No dicionário 'universal escolar de língua portuguesa', edição de 1999 da Texto Editora,  vem a seguinte definição de democracia : sociedade que garante a liberdade de associação e de expressão e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários (sic). Já não há qualquer referência a 'governo do povo pelo povo' ou similar. Esquisito, não é ?


F. Fonseca Santos



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