terça-feira, 28 de outubro de 2014

PRIVATIZAÇÕES E INVESTIMENTOS




Estou a ler “Le Capital au XXIº Siècle” ( edição do Seuil, 970 páginas) do professor de economia Thomas Piketty.

Este livro pertence ao grupo dos que leio não por prazer mas por” obrigação”, para aprender mais alguma coisa sobre uma matéria que preocupa toda a gente, ou quase, ou seja a economia mundial.

Ainda vou no princípio, mas já deparei com afirmações que apoiam críticas que constantemente caem ( no meu entender mais que justamente ) sobre o presente governo PSD-CDS acerca das suas políticas de ensino e de privatizações

Com uma devida vénia ao autor, permito-me traduzir parte do texto das páginas 120 e 121 “… Nenhum dos países asiáticos que tiveram uma trajectória de aproximação em relação aos países desenvolvidos, seja no passado recente  o Japão, a Coreia ou  Taiuã, seja actualmente  a China, beneficiou de investimentos estrangeiros em massa. No essencial, estes países financiaram-se a si próprios com o capital físico de que tinham necessidade, e sobretudo com  capital humano - elevação do nível geral de educação e de formação -, acerca dos quais todas as pesquisas contemporâneas demonstraram que era o essencial do  crescimento económico no longo prazo. …”

É evidente portanto que o desinvestimento que o presente governo tem feito na educação dos jovens e dos adultos – sob a capa da diminuição da população e da (ir)racionalização dos serviços - e na investigação e desenvolvimento só vai prolongar o nosso atraso económico por não sei quantos mais anos.

Quanto a investimentos com capitais nacionais, públicos ou privados, não tenho notícia da sua efectivação numa actividade nova que pudesse reduzir as importações ou aumentar as exportações. Pequenas e médias empresas vão procurando trilhar esse caminho mas, pelo que leio com bastantes dificuldades.

( Obviamente que para o presente governo investir capitais públicos na economia é uma heresia destinada à condenação eterna )

O que temos assistido, nomeadamente desde que a troika tomou conta dos destinos económicos do país, é exactamente o contrário do que deveria ser : através das privatizações ( GALP, EDP, REN, ANA, FIDELIDADE ) a totalidade ou parte do capital nacional tem sido substituído por capital estrangeiro, sem que que isso trouxesse ‘know-how’ ou aumentasse o emprego.

Claro que o capital estrangeiro ao adquirir a totalidade ou parte daquelas empresas fê-lo porque o negócio era bom e em breve o dinheiro investido seria compensado pela remessa de lucros para o país de origem. Por outras palavras o presente governo recebeu uns dinheiros mas no médio/longo prazo Portugal vai empobrecer com a saída dos ditos lucros.

Se as privatizações acima referidas tivessem sido feitas por venda de acções na bolsa e com condições específicas provavelmente teria havido compradores portugueses e o interesse nacional salvaguardado.

No mundo dito global em que vivemos e em que os capitais circulam livremente entre a maioria das nações, é claro que existirão investimentos estrangeiros em Portugal e investimentos portugueses no exterior.

Porem, o importante, para não empobrecermos a médio/longo prazo será que os rendimentos daqueles investimentos sejam equivalentes ou, melhor ainda, que sejam favoráveis ao nosso país.

Seria interessante conhecermos qual é o nosso balanço neste particular. Assim saberíamos dizer se estávamos no caminho das economias emergentes ou imergentes.

 

F. Fonseca Santos

27 OUT 2014