segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O CASO DO ÁRBITRO DO JOGO DE FUTEBOL BEIRA MAR X SPORTING

A este caso foi dada nos meios de comunicação social imensa importância. Muitas personalidades ligadas ao futebol botaram opinião sobre o mesmo, lamentando o que tinha sucedido e solicitando mesmo a intervenção do poder poítico.
Para que um dia mais tarde se saiba do que estou a falar, vou resumir o que aconteceu :
O árbitro nomeado para dirigir o jogo da 1ª Liga entre o Beira Mar e o Sporting no dia 21/08/2011, recusou-se a fazê-lo por se considerar ofendido com referências desagradáveis que lhe foram feitas pelo presidente do Sporting ( que eu não ouvi ), tendo noticiado a sua decisão com antecedência.
Não foi possível nomear um substituto antecipadamente porque os outros árbitros da 1ª ( e 2ª ? ) Liga se mostraram solidários com o colega.
De modo que as equipas apresentaram-se em campo levando cada uma o seu árbitro. Acabou por ser escolhido um árbitro dos campeonatos distritais de Aveiro ( pessoa à partida "sem categoria" para dirigir o desafio em causa ). Porem o árbitro escolhido desempenhou muito bem o seu papel e fez uma boa arbitragem .
No dia entre as opiniões expressas, de que acima falei, disse-se que era um descrédito para o futebol português, que iríamos perder credibilidade internacional, etc.,etc.
Antes de exprimir o que os dirigentes e comentadores deveriam ter dito deixem-me contar dois histórias verdadeiras :

Em meados da década de 50 século XX, o meu pai foi de carro com uns colegas a Cannes para participarem numa prova de esgrima. Ele contou-me no regresso o seguinte episódio:
A Espanha ainda estava a sarar as feridas da guerra civil e o seu grau de desenvolvimento não era, obviamente, o que poucos anos depois passou a ser.
Por isso, ao chegarem a uma cidade de que esqueci o nome, o meu pai e os companheiros perguntaram a um popular, como se dizia na altura, “como estava a estrada para Barcelona”. Imediatamente o homem  respondeu : “estupenda !”.
Na realidade, vieram a verificar, a estrada estava em péssimo estado, apresentando uma notável colecção de buracos !
Mas, face a estrangeiros, o espanhol não podia deixar de elogiar a “sua” estrada.
Posso imaginar o que um português diria nas mesmas circunstâncias : “ a estrada ? aquilo é um monte de buracos ! vocês vão chegar com o carro desfeito, se chegarem, etc.
Recentemente, numa visita guiada a Ourense, na Galiza, ao apresentar a plaza mayor, que no meu entender é modesta comparada com muitas outras de Espanha, incluindo as da Galiza, a guia disse com ar feliz e sorridente . “ esta é a única plaza mayor de Espanha que não é direita ( horizontal ) mas sim inclinada. “
Penso que isto não é muito interessante ( para colocar mesas e cadeiras nas esplanadas, p.ex. ) mas para ela era um motivo de orgulho.
Um português, nas mesmas circunstâncias, possivelmente diria :” esta plaza não é das melhores de Portugal e ainda por cima é inclinada ; naquele tempo com certeza não tinham nível de bolha de ar”,etc.
Estes exemplos, a que se poderiam juntar muitos outros, ilustram a diferença de opinião dos ibéricos em relação aos seus próprios países : para os espanhois o que é espanhol é bom ; para os portugueses o que é português é fraco ou tem defeitos.


Posto isto, eis o que os comentadores futebolísticos, na minha opinião, deveriam ter dito :
Esta arbitragem foi notável!  - muito melhor que o jogo, acrescento eu
Só em Portugal a arbitragem tem um nível geral tão elevado que um árbitro dos campeonatos distritais consegue dirigir um jogo da 1ª Liga  com grande sucesso. Que exemplo!
E os árbitros tem espinha dorsal: não estão para aturar desaforos dos dirigentes dos clubes !

F. Fonseca SantosF. Fonseca Santos

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

LADRÕES DE CARTEIRAS

Esta é uma pequena e ligeira crónica em que vou falar de ladrões de carteiras, não dos legalizados, mas daqueles que arriscam a liberdade para conseguirem umas notas, uns trocos, sabem eles para quê.
Embora, felizmente para mim, a minha experiência seja muito limitada, vou atrever-me a tentar uma generalização dizendo que a classe dos ladrões, à semelhança de algumas outras classes profissionais, tambem se tornou "rasca", sem ética nem princípios.
Esta generalização é de facto arriscada tanto mais que a vou fazer através de apenas dois casos que se passaram comigo. Mas tambem hoje em dia muita gente diz e escreve coisas sem cuidar de fazer a prova da sua generalidade e eu, erradamente, vou fazer o mesmo.
Há muitos anos, numa viagem de Metro em Lisboa, foi-me roubada a carteira do bolso interior do casaco.
O furto foi efectuado quando eu ia a saír na paragem pretendida e devo dizer que não foi perfeito. De facto ao achar-me no cais tive a sensação de ter sido tocado nas costas ao deslocar-me entre as pessoas para a porta da carruagem e lembrei-me de levar a mão ao bolso do casaco. Claro que a carteira tinha desparecido! Não pude tentar recuperá-la porque entretanto o comboio tinha-se posto em marcha.
Tentando lembrar-me de algum passageiro que tivesse ar suspeito, não consegui vizulizar mentalmente nenhum nessas condições:  todos me pareceram normalíssimos utentes do Metro.
Fui à Polícia e aconselharam-me a esperar uns dias, antes de começar a tratar da documentação perdida, pois era corrente um ladrão sério ficar com o dinheiro e pòr a carteira num marco do correio.
Na realidade assim sucedeu : passados uns dias recebi um telefonema da Polícia pois a carteira tinha aparecido e estava nos Perdidos e Achados.
Concluí deste episódio que : i) o ladrão tinha formação profissional, pois andava vestido de forma a não dar nas vistas, executava o seu golpe na altura ideal e dispunha duma técnica quase perfeita; ii) tinha os seus princípios ou a sua ética, pois não pretendia prejudicar ou dar trabalho à sua vítima, limitando-se a ficar com o dinheiro; e iii) era corajoso pois a coisa podia correr mal e ser apanhado em flagrante.
Recentemente roubaram-me uma maleta, com a carteira e documentos , da bagageira do carro. Penso que tive culpa no sucedido pois devo ter deixado a tampa da mala do carro mal fechada e no sítio escuro ( era noite ) onde o carro estava estacionado foi fácil ao ladrão,  en passant, surripiar a dita maleta. Não havia o mínimo sinal de arrombamente e a tampa ainda estava mal fechada
Penso que não foi preciso muita (ou nenhuma) coragem para efectuar o roubo.
Mesma sequencia que anteriormente : fui à Polícia partipar o roubo, tomaram nota e disseram-me para aguardar alguns dias pois poderia ser que os documentos aparecessem
Mas não apareceram! E concluí que, contrariamente ao outro ladrão, este não tinha tido necessidade de formação profissional, não tinha consideração pela trabalheira que iria causar à sua vítima, não tinha tido necessidade de ser corajoso !
Apeteceu-me dizer "sinais dos tempos" como diriam os antigos, mas limitei-me a tirar para mim próprio a conclusão/generalização de que falei acima .
Posso terminar com   q.e.d. ou não ?


F. Fonseca Santos