O CASO DO ÁRBITRO DO JOGO DE FUTEBOL BEIRA MAR X SPORTING
A este caso foi dada nos meios de comunicação social imensa importância. Muitas personalidades ligadas ao futebol botaram opinião sobre o mesmo, lamentando o que tinha sucedido e solicitando mesmo a intervenção do poder poítico.
Para que um dia mais tarde se saiba do que estou a falar, vou resumir o que aconteceu :
O árbitro nomeado para dirigir o jogo da 1ª Liga entre o Beira Mar e o Sporting no dia 21/08/2011, recusou-se a fazê-lo por se considerar ofendido com referências desagradáveis que lhe foram feitas pelo presidente do Sporting ( que eu não ouvi ), tendo noticiado a sua decisão com antecedência.
Não foi possível nomear um substituto antecipadamente porque os outros árbitros da 1ª ( e 2ª ? ) Liga se mostraram solidários com o colega.
De modo que as equipas apresentaram-se em campo levando cada uma o seu árbitro. Acabou por ser escolhido um árbitro dos campeonatos distritais de Aveiro ( pessoa à partida "sem categoria" para dirigir o desafio em causa ). Porem o árbitro escolhido desempenhou muito bem o seu papel e fez uma boa arbitragem .
No dia entre as opiniões expressas, de que acima falei, disse-se que era um descrédito para o futebol português, que iríamos perder credibilidade internacional, etc.,etc.
Antes de exprimir o que os dirigentes e comentadores deveriam ter dito deixem-me contar dois histórias verdadeiras :
Em meados da década de 50 século XX, o meu pai foi de carro com uns colegas a Cannes para participarem numa prova de esgrima. Ele contou-me no regresso o seguinte episódio:
A Espanha ainda estava a sarar as feridas da guerra civil e o seu grau de desenvolvimento não era, obviamente, o que poucos anos depois passou a ser.
Por isso, ao chegarem a uma cidade de que esqueci o nome, o meu pai e os companheiros perguntaram a um popular, como se dizia na altura, “como estava a estrada para Barcelona”. Imediatamente o homem respondeu : “estupenda !”.
Na realidade, vieram a verificar, a estrada estava em péssimo estado, apresentando uma notável colecção de buracos !
Mas, face a estrangeiros, o espanhol não podia deixar de elogiar a “sua” estrada.
Posso imaginar o que um português diria nas mesmas circunstâncias : “ a estrada ? aquilo é um monte de buracos ! vocês vão chegar com o carro desfeito, se chegarem, etc.
Recentemente, numa visita guiada a Ourense, na Galiza, ao apresentar a plaza mayor, que no meu entender é modesta comparada com muitas outras de Espanha, incluindo as da Galiza, a guia disse com ar feliz e sorridente . “ esta é a única plaza mayor de Espanha que não é direita ( horizontal ) mas sim inclinada. “
Penso que isto não é muito interessante ( para colocar mesas e cadeiras nas esplanadas, p.ex. ) mas para ela era um motivo de orgulho.
Um português, nas mesmas circunstâncias, possivelmente diria :” esta plaza não é das melhores de Portugal e ainda por cima é inclinada ; naquele tempo com certeza não tinham nível de bolha de ar”,etc.
Estes exemplos, a que se poderiam juntar muitos outros, ilustram a diferença de opinião dos ibéricos em relação aos seus próprios países : para os espanhois o que é espanhol é bom ; para os portugueses o que é português é fraco ou tem defeitos.
Posto isto, eis o que os comentadores futebolísticos, na minha opinião, deveriam ter dito :
Esta arbitragem foi notável! - muito melhor que o jogo, acrescento eu
Só em Portugal a arbitragem tem um nível geral tão elevado que um árbitro dos campeonatos distritais consegue dirigir um jogo da 1ª Liga com grande sucesso. Que exemplo!
E os árbitros tem espinha dorsal: não estão para aturar desaforos dos dirigentes dos clubes !
F. Fonseca SantosF. Fonseca Santos
