quarta-feira, 23 de maio de 2012

OS N.A.B.O. - UMA QUESTÃO DE SEMÂNTICA

Na terminologia habitual da comunicação social é usada a expressão "neo-liberal" para designar os adeptos duma política económica centrada nos mercados e muito pouco humanista. Esta política pouco a pouco tem conduzido à concentração da riqueza em poucos e à ditadura do dinheiro - dos que o possuem - sobre as pessoas, as empresas e as nações.
Ora associar a palavra liberal, que tem muitos significados, desde generoso a defensor das liberdades civis e políticas, às práticas dos agora ditos "neo-liberais" é um abuso inqualificável da nobre palavra. Por isso a designação de "neo-liberal" com o significado que lhe é atribuido, deve ser banida do léxico corrente de todos os democratas.
Como designar então os seguidores de tal doutrina?
Qundo comecei a pensar no assunto achei difícil, recorrendo apenas aos termos correntemente usados.
Vejamos porquê.
Chamar-lhes "conservadores" parecia lógico - mas não é. Conservador é alguem que quer conservar algo. Porem eles não querem "conservar" a situção política europeia em que predomina o estado social, querem precisamente acabar com ela. Chamam a isso adaptar-se aos novos tempos.
Então seria viável designá-los por "progressistas" ?
Longe vá o agoiro! Progressistas tem sido sempre
aqueles que desejam o progresso dos seres humanos
duma forma generalizada e cobrindo os diferentes aspectos da vida.
Monetaristas é talvez uma palavra possível. Porem em termos de teorias económicas tem um significado mais ou menos preciso e não se adapta totalmente à prática das pessoas em causa.
As pessoas em causa, como acima foi dito, são adeptos do livre funcionamento dos mercados e portanto da livre circulação dos capitais e da minimização ou zeroficação ( se me é permitido inventar uma palavra ) dos impostos a pagar. Acho
que têm um amor desmesurado ao dinheiro, ao capital e não pensam que este tem uma função social a desempenhar.
O termo espanhol de "peseteros" talvez fosse adequado mas tem a desvantagem de não ser português e de muita gente não saber o que foi a peseta e o que significa pesetero.
Chegado aqui e já sem vontade de dar mais voltas à imaginação, lembrei-me que a nossa cultura tem uma fortíssima base judaico-cristã e que nos textos
da Bíblia há exemplos para todos os gostos ou situações. Claro que associado ao tema deste escrito apareceu logo a lembrança do caso do Bezerro de Ouro e da intervenção de Moisés.
È óbvio que os chamados "neo-liberais" são amantes do ouro, ou do dinheiro. Prostam-se perante ele. Como os judeus se prostraram perante o Bezerro de Ouro - até ao retorno de Moisés
Consequência : eles são os Novos Adoradores do Bezerro de Ouro ou, abreviadamente eles são os N.A.B.O. ou NABO.
Parece-me, sem falsa modéstia, uma designação feliz e fácil de vulgarizar.
E permite tambem um fácil contra-ataque dos NABO : Pois é eles chamam-nos "nabos" mas nós é que temos o dinheiro e eles estão de mão estendida.
Por isso eu reclamo:
Ó Deuses, mandai-nos depressa um novo Moisés!

Declaração de ( des) interesses :
1. Não sou economista : ouço-os falar e leio alguma coisa do que escrevem
2. Não tenho nada contra o dinheiro. Ele é um elemento imprescindível na nossa vida. O que tenho é contra a sua acumulação indevida, à custa da pobreza de muitos .
 Cito o verdadeiro liberal Almeida Garrett :
E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infância, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico ?
  
F. Fonseca Santos

terça-feira, 8 de maio de 2012

UM NOVO "DIA D" PARA A EUROPA OCIDENTAL ?

Ontem, 6 de Maio de 2012, François Hollande venceu as eleições presidenciais francesas. Dadas as suas afirmações na campanha eleitoral, será um novo Dia D para a Europa Ocidental?
Será que a União Europeia irá começar a deixar de
parte a política monetarista e iniciar um caminho de
regresso a um desenvolvimento sustentado em que
o grande e pequeno capital  sejam novamente postos ao serviço dos povos duma forma racional e útil para todos ?
Muitos de nós, europeus, temos esperança de que isso venha a acontecer.
No Dia D de 6 de Junho de 1944, com o desembarque das tropas aliadas nas praias da Normandia iniciou-se a libertação da Europa Ocidetal da sangrenta ditadura nazi - e o primeiro país libertado foi precisamente a França.
Hoje a ditadura de que queremos ser libertados é a
ditadura dos mercados desregulados, dos especuladores sem freio, dos juros esmagadores dos
super-agiotas, das designadas "agências de notação"
- que estão ao serviço de alguem, que não a maioria
das populações -, dos denominados "off-shores" que servem para muita coisa mas não para beneficiar os cidadãos comuns.
Hoje o que queremos é que os bancos regressem às suas funções de alavancas dos progresso, emprestando o dinheiro necessário ao desenvolvimento das pessoas, das empresas, das nações mas a juros comportáveis para os clientes e
compatíveis dos seus objectivos de auferirem uma recompensa ( lucro ) pelo serviço prestado.
Hoje o que queremos tambem é o fim da ditadura da austeridade ou, por outras palavras, que a austeridade não seja esmagadora para a grande maioria e benéfica ou indiferente para uma minoria de beneficiados, nem permita que os mais fortes financeiramente abusem dos mais fracos.
Não quero dizer que as dívidas das pessoas, das empresas e das nações não devam ser pagas. Quero dizer que os juros porque estão a ser pagas devem ser revistos, bem como os prazos de pagamento para pôr fim à agiotagem e reduzir as probabilidades de incumprimento. Mas isso, dirão alguns em defesa dos seus dinheiros , outros em defesa das teorias que aprenderam nas escolas onde estudaram, outros ainda em defesa das seus preconceitos ideológicos, é condionar os mercados, não permitir que eles funcionem livremente. Talvez seja, mas o que é mais importante, o Homem ou os mercados ? Os mercados devem estar ao serviço das pessoas ou as pessoas devem prostrar-se perante os mercados, qual Bezerro de Ouro dos nossos tempos ?
Esperemos pois que a mudança política em França seja o catalizador para voltar a pôr as pessoas, todas as pessoas, no centro das atenções dos governantes eleitos por essas mesmas pessoas.
Tal como o 25 de Abril de 1974 foi o início do fim das ditaduras em países da Europa do Sul.


F. Fonseca Santos