NOTAS A UM ESCRITO SOBRE PROFESSORES DESEMPREGADOS
Dizer que a educação é muito importante e condiciona o nosso futuro, é um lugar comum mas que nunca é demais repetir para que as pessoas não esqueçam
Por isso penso que não se deve deixar passar sem comentários opiniões que nos pareçam desajustadas do que deve ser o rumo da educação e que a elas devemos contrapôr os nossos argumentos.
Vem esta introdução a propósito dum escrito publicado no jornal Público de 14/08/2012 pelo Professor e Investigador Sr. José Carvalho sob o título " Os Professores Desempregados".
Antes de mais deverei fazer uma declaração de interesses : sou reformado e na minha vida trabalhei um ano como assistente alem do quadro ( na Universidade Técnica), fiz 4 anos de serviço militar obrigatório como oficial miliciano e trabalhei 37 anos no sector privado. Em qualquer destas actividades tive de ensinar, mas não me considero um professor. Por isso a defesa que eventualmente faça dos professores é apenas por questões de respeito e justiça moral.
Em face do que foi dito no início, a conclusão a tirar é que o sistema de ensino deve facultar os meio para os alunos terem aproveitamento e irem tão longe quanto possível na sua aprendizagem. Isto não é a defesa do facilitismo, é a defesa, repito, de os alunos aprenderem o máximo que as qualidades com que foram dotados pela natureza lhes permita. Independentemente de serem ricos, remediados ou passarem fome em casa.
Na realização deste desiderato a existência de professores, de bons professores, de professores com tempo para pensarem nos problemas da escola e dos seus alunos, é imprescindível.
Tambem não se pretende que todos os estudantes venham a ser licenciados, mas pretende-se que todos saiam da escola sabendo alguma coisa que lhes seja útil a si próprios e ao resto da sociedade para viverem a sua vida com dignidade. E a escolha entre seguir para o ensino superior ou enveredar pelo ensino prático não deve ser feita demasiado cedo. Não deve ser feita como no tempo do Dr. Salazar em que a opção ocorria aos 10 anos.
Claro que mesmo nesse tempo, os alunos que seguiam a via profissional podiam chegar à licenciatura AB ( antes de Bolonha ) ou mesmo ao doutoramento, mas era mais difícil.
Dos vários temas que poderiam ser abordados na apreciação do que foi escrito, deixarei de lado a questão sociológica do número de filhos que os portugueses desejam ou podem ter ( a culpa é sem dúvida da "pílula" ) e os aspectos estatísticos, para referir apenas dois : o tamanho das turmas e a forma ou estilo do documento.
1. O tamanho das turmas
Deduz-se da leitura do escrito que o aumento do número de alunos por turma - uma das causas da não contratação de mais professores -é considerado uma racionalização de recursos humanos. Isto é tipicamente uma opinião de quem olha mais ao dinheiro do que ao resto. De facto, e pelo que é opinião generalizada entre a maioria dos especialistas em ensino, as turmas não devereriam ter mais de 20 alunos e nos casos de alunos com dificuldades de aprendizagem ou de alunos vivendo em meios sociais difíceis, sem apoio doméstico,
ainda menos. Isto evidentemente se quisermos aproveitar ao máximo as potencialidades dos nossos jovens e a inclusão de todos na nossa sociedade.
A análise destes pressupostos conduziria certamente a um número diferente dos professores nomeados para dar aulas no próximo ano lectivo. Não reduziria totalmente o número de professores desempregados, mas pelo menos a quantificação das necessidades assentaria num pressuposto mais justo
do ponto de vista da eficiência do ensino.
2. O estilo utilizado no escrito
Três expressões me causaram admiração e acho-as muito reveladoras do pensamento do Sr. José Carvalho.
a) No 2º parágrafo do texto lê-se "vai por aí um imenso choradinho sobre o facto de em 2012/2013 o Ministério da Educação ir contratar menos professores" ( sic - frase retirada dum texto do Jornalista, Sr. José Manuel Fernandes )
Aplicar o termo depreciativo choradinho aos protestos de quem pretende trabalhar na sua profissão revela muita insensibilidade, pelo menos.
b) No último parágrafo do texto aparece a expressão " os grupos defensores-dos-pendurados- do estado".
Quem são os pendurados do estado ?
Os que recebem pensões muito acima dos descontos que fizeram ?
Os que estão colocados em cargos para os quais não têm competência ?
Os investigadores que recebem bolsas do estado ?
Todos os funcionários públicos ?
Convinha esclarecer.
c) Finalmente no último periodo aparece a frase " Mas quem será que ainda pode levar esta malta a sério?" (sic ).
Fui a um dicionário reverificar os significados da palavra malta e encontrei o seguinte :
MALTA. f. Reunião de gente de baixa condição. || Malandragem, súcia. || Bando, grupo. || Rancho de trabalhadores que se transportam juntos de um para outro ponto em busca de trabalhos agrícolas. || Grupo de camaradas de escola, de folguedo, etc. || A rapaziada. || Vida airada; tuna. || Substância gelatinosa tambem chamada pez mineral. || Fazer-se à m. Fugir.
Qual destes significados estaria na mente de quem escreveu ? Tambem teria interesse sabermos...
F. Fonseca Santos

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