NOMEAÇÕES FEITAS PELO GOVERNO E PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
Recorrentemente, sempre que muda o Governo, vem noticiado nos jornais os milhares de nomeações feitas pelo novo executivo para cargos públicos e para as empresas públicas, ou nas quais o Estado ainda tem poder. Isto depois de o candidato a PM ter prometido, quase jurado, durante a campanha eleitoral que "desta vez é que não há jobs for the boys".
Trata-se evidentemente duma promessa eleitoral tradicional, destinada a não ser cumprida e que os eleitores já deviam entender dessa maneira : destinada a não ser cumprida.
Aliás a nossa tradição política diz-nos que sempre foi assim e na realidade, para os cargos políticos, não vejo grande inconveniente nessa prática. Os políticos devem de facto poder nomear para os cargos políticos pessoas em quem tenham confiança, que comunguem duma forma geral dos mesmos ( ia escrever "ideais", mas como me parece que é uma espécie em vias de extinção, é preferível dizer "das mesmas ideias" ). E de certo modo quem trabalhou bastante e honestamente para um partido ganhar as eleições merece uma recompensa! Pode é não querê-la, como o D.Afonso IV ( O D. Afonso IV é que consta que , depois da batalha do Salado, disse: "não quero nada, basta-me a glória de ter vencido" ) . O que os chefes políticos deveriam fazer é ter o cuidado de escolher os mais competentes e não aqueles que são mais hábeis em fazer os pequenos obséquios e em elogiá-los pela beleza da gravata
Já o mesmo não se pode dizer dos cargos técnicos. Aí, para que as coisas marchem bem, são necessárias pessoas com experiência e conhecimentos profundos da matéria. Seria arrepiante, por ex., pôr um advogado, só porque é esplêndido a arrasar, discursivamente, os adversários, em Director Geral de Saude
E um técnico competente está em geral agarrado a uma ética da profissão que o levará a servir o País, independentemente de quem tiver ganho as eleições ( é talvez uma afirmação arrojada mas em que eu quero absolutamente acreditar )
E para ilustrar parte do que acima disse, nada como reler um clássico, neste caso "O Conde de Abranhos"
do velho Eça :
O Alípio Abranhos tinha acabado de recusar um cargo de ministro porque lhe parecia que o governo em formação tinha os dias contados. Então um amigo da casa...
" Arrastou Alípio para vão da janela e atacou-o em surdina: - Porque não havia de aceitar a pasta? Se não fosse por ele, por sua esposa, que fosse pelos seus amigos...Era necessário franqueza que diabo! Aí estava a pobre D. Joana, com o cirro no estômago, coitada, e o marmanjo do sobrinho, sem um bocado de pão! Era necessário empregar aquele marmanjo! Aí estava a D. Amália que queria a sua pensão. Aí estava o Padre Augusto - e todos sabiam os serviços que lhe prestara- que se mirrava no desejo de ser cónego!...
Abranhos não podia traír os seus amigos, as suas legítimas esperanças... Ele Fradinho podia falar livremente, não desejava nada. (...). Mas os outros: o coronel! o Doutor! o Tavares! Era necessário ter consideração pelos seus amigos que se esfalfavam a ir daqui e dali, a glorificar o Sr. Alípio Abranhos!... Devia aceitar a pasta, por decência, por gratidão..."
Mas desta vez o Alípio não aceitou.
Embora ficção, muito elucidativo não acham ?
F. Fonseca Santos

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