UM MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO COM POUCA EDUCAÇÃO ?
O caso noticiado pelos meios de comunicação social da decisão do Ministério da Educação de, dois dias antes da entrega dos prémios aos melhores alunos do 12 º ano, comunicar às Escolas que este ano não haveria distribuição prémios é ( ia dizer muito grave como se diz hoje a propósito de tudo e de nada, fazendo lembrar aquele personagem de "Os Maias" que falando sobre qualquer político começava por dizer "Il est très fort..." ) duma falta de senso comum notável. Ou deverei dizer " duma falta de educação assinalável deixar os jovens na expectativa de receberem um prémio pelo seu mérito até`quase à última da hora e depois mandar-lhes dizer que não há recompensa por uma mudança súbita de critério" ? É como ter marcado um encontro com uma pessoa que se vai conhecer e depois mandar alguem telefonar, com uma desculpa nada convincente, a dizer que não se vai comparecer ao encontro. Como se classifica este exemplo comezinho : modernice, desrespeito pela pessoa que espera, falta de chá , falta de educação ? Não sei se a culpa é pessoalmente do Sr. Ministro ou de outrem no ministério. Mas a responsabilidade final é do Sr. Ministro. Lembrem-se do caso exemplar da queda da ponte Hintze Ribeiro que provocou o pedido de demissão imediato do ministro Jorge Coelho, embora a culpa não fosse pessoalmente dele.
( Recordei-me de repente da minha avó materna que hoje teria 151 anos, que leu sem óculos "O Diário de Notícias até depois dos 90 anos e que certamente diria uma das suas frases predilectas : " pois é meu menino, hoje há muita ilustração e pouca educação" ).
Que juizo passarão a fazer da classe política, os jovens que ouvem dizer mal dos políticos a torto e a direito, mas que provavelmente ainda não tinham sentido na pele nenhuma injustiça ? Parece-me óbvio que passarão a concordar com todos os portugueses que com ou sem razão não acreditam nos políticos
E se o assunto tivesse acontecido com a criadora do prémio, a ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues ? Céus, os media fariam soar os tambores de guerra por todos os cantos do país num barulho ensurdecedor!
E os oposicionistas ao governo dessa época não perderiam, e com razão, uma tão boa oportunidade de criticar.
A instituição Escola, a todos os niveis e pela actuação dos seus agentes,deve ter sempre um comportamento
digno que inspire o respeito dos Alunos, a começar pelas instalações ( incluindo os sanitários que devem ser
um exemplo de higiene), continuando pelos auxiliares e pelos professores e terminando nos dirigentes. Estes com mais responsabilidades que todos os outros. Ainda me lembro do meu tempo de liceu em que os auxiliares eram contínuos fardados mas que, com uma ou outra excepção eram respeitados pelos alunos. Porque tinham um comportamento digno, alem do mais.
Por seu lado, uma parte da chamada "sociedade civil " castigou o procedimento do ministério com uma notável bofetada sem mão : pensou que os alunos não deviam ficar sem o seu prémio e substitui-se àquele
na entrega dos mesmos - pelo menos a uma parte dos alunos
Devo declarar neste momento que não conheço o cidadão Nuno Crato e que não tenho razão nenhuma para imaginar que seja pessoa capaz duma indelicadeza, duma falta de cortesia, dum acto menos civilizado. Penso mesmo que teria uma reacção igual à do ministro antecessor , o Doutor Mariano Gago, numa ocorrência no Terreiro do Paço, junto ao café Martinho da Arcada.
Passo a relatar porque, por coincidência, assisti pessoalmente à mesma . Uma senhora de idade que estava de passagem, escorregou no lajedo e caíu, muito perto de mim. Mas antes que eu tivesse tempo de esboçar um gesto de ajuda, surgiu uma pessoa que a ajudou a levantar-se do chão. Foi o ministro Mariano Gago. A senhora que felizmente não tinha sofrido nada, agradeceu e disse ( era de facto uma senhora de idade ) " se não se importa, gostaria de saber o seu nome e a sua morada a fim de lhe mandar um cartão a agradecer mais uma vez a sua atenção!" Mariano Gago escusou-se delicadamente, desejou-lhe as boas tardes e foi-se embora .
Aliás, tenho pensado, que não é só o Fernando Pessoa que encarna várias personalidades ( heterónimos ). Todos nós tambem temos vários heterónimos, se me é permitido usar o termo. Assim do cidadão Nuno Crato que não conheço, como acima escrevi, posso pensar, baseado no que leio nos jornais, que tem pelo menos dois heterónimos : o articulista Nuno Crato e o ministro Nuno Crato. E pelo que escrevem ou dizem podem ser tão diferentes como os heterónimos do nosso Poeta .
Se volto a este assunto, já depois de esquecido pelos meios de comunicação social , é porque tambem os alunos a premiar não se vão esquecer deste episódio da sua vida com facilidade e certamente levará muito tempo para que voltem a encarar o Estado Português como uma entidade de confiança. E isto é uma grande tristeza.
F. Fonseca Santos

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