A TELEVISÃO É UMA ARMA ? SIM !!!
É uma discussão recorrente nos EUA se as pessoas devem ter ou não o direito de andar armadas ou simplesmente ter armas. Os defensores dizem que é um direito consuetudinário de defesa e que as armas não são um mal em si, mas que o mal estará no uso que se faz delas. Os contrários argumentam que a posse de armas facilita o crime e portante a sua não posse seria um contributo importante para a diminuição da criminalidade.
Não quero envolver-me nesta discussão, mas vou tomá-la como ponto de partida para as considerações que se seguem.
Antes disso farei apenas duas observações :
a) Quem não tem armas, como se pode defender dos que as têm ?
b) Os direitos de guerra e justiça privadas deviam, nas nações civilizadas, ter acabado quando acabou o Feudalismo. Mas acabaram ?
Nos tempos que correm quais são as armas que estão ao dispor das pessoas e dos estados ?
Pelo menos estas : i) as armas própriamente ditas ( desde o canivete à bomba nuclear ), ii) o dinheiro, iii) o conhecimento e iv) os meios de comunicação social ( ditos abreviadamente media).
Como disse acima, sobre i) nada vou dizer, sobre ii) e iii) farei uma ou outra consideração e deter-me-ei
um pouco mais em iv)
O poder do dinheiro está à vista de todos. Com a falta de regulação da sua utilização os seus detentores permitem-se esmagar pessoas e até estados implantando uma nova forma de tirania ou de dominação. As nações de regimes democratas não podem ter a cobardia de admitir tal estado de coisas a pretexto de que " os mercados é que devem regular". Podemos até comparar a importância dos mercados com a água : ela é indispensável para vivermos, mas se bebemos demais ou afogamo-nos ou rebentamos!
O conhecimento, em sentido lato, é fundamental para o nosso progresso e desenvolvimento pessoal,
para aumentar a esperança de vida, para diminuir o sofrimento, para tornar a existência mais fácil, etc.
mas se mal utilizado pode levar a coisas terríveis como as faladas armas de destruição maciça, etc.
Os alemães, a seguir à derrota na 2ª guerra mundial
conseguiram rcuperar rapidamente, não só porque os seus vencedores ajudaram, perdoando dívidas de guerra, fornecendo dinheiro, contribuindo para a democratização das instituições, mas tambem porque o grau de cultura e conhecimento dos seus habitantes era muito elevado e permitiu-lhes aproveitar bem as benesses oferecidas
Quanto aos media, o seu poder é extraordinário e portanto o seu domínio é importantíssimo.
E isto é verdade tanto para os países democratas onde existe a livre expressão de pensamento, como para os regimes autocráticos em que não existe oficialmente liberdade de expressão e aquilo que se pode dizer em público é fortemente condicionado.
No caso dos países democratas, nestes tempos em que a existência dum medium de difusão nacional exige um investimento e um custo de funcionamento
não despiciendos, onde o mais natural é que os media sejam propriedade de indivíduos ou sociedades com dinheiro e com interesses próprios, como se assegura que a voz dos que pretendem uma mais equitativa distribuição da riqueza nacional, a igualdade de oportunidades na educação e na saude, se vai poder exprimir ?
A resposta é evidente : com media que se preocupem mesmo com os mais desfavorecidos ou com media que tratem os assuntos políticos, económicos e sociais duma forma objectiva, verdadeira e imparcial, dando oportunidade a todos de exprimirem as suas ideias.
No primeiro caso, em Portugal, só consigo lembrar-me de alguns jornais partidários, mas como não leio todos os periódicos que se publicam, nem ouço todas as estações de radio existentes, estou talvez a cometer alguma injustiça.
No segundo caso existem jornais, semanários, estações de rádio e uma estação de TV, privados, que se aproximam daquele objectivo ( embora o tom geral seja conservador ou neo-liberal) e existem, felizmente, as estações de radio e de televisão pertencentes a todos os portugueses e geridas por intermédio do Estado ( RDP e RTP ).
Estes últimos media devem ser tratados com particular cuidado, e portanto as suas direcções cuidadosamente escolhidas e escrutinadas para que o conjunto da sua programação sirva o interesse nacional, contribuindo para a elevação cultural do nosso povo, distribuindo a informação duma forma correcta e devidadmente averiguada quanto à sua veracidade, repondo a verdade quando necessário e fornecendo entretenimento não estupidificante.
Claro que estes media custam dinheiro e portanto o seu financiamento deve ser realista e adequado aos objectivos definidos e os seus gastos devem ser objecto duma fiscalização rigorosa.
Falta aos portugueses a propriedade dum jornal ( não do tipo do horroroso "Diário da Manhã" do anterior regime, mas mais do tipo do "Le Monde" de outrora que era acusado pelos conservadores de ser esquerdista e pelos esquerdistas de ser conservador ).
Portanto a ideia do Governo, liderada pelo Sr. Ministro Relvas de privatizar um canal da RTP por motivos ideológicos ou para receber dinheiro só pode ser considerada gravemente lesiva dos interesses da maioria dos portugueses. E se, ainda por cima, fôr alienada a capitais dum país estrangeiro, então o epíteto não pode ser outro senão o de anti-patriótico!
Correndo o risco de dizer o que todos sabem, e alguns fingem não saber, vou resumir:
a) A televisão é uma arma poderosa que pode ser usada para o bem ou para o mal
b) Os Estados que não dispõem duma boa televisão
estão à mercê das televisões que têm por objectivo fundamental o lucro, podem defender interesses privados contrários aos da maioria e ainda, duma forma subtil, podem desinformar.
c) Logo o Estado Português deve possuir uma boa estação de televisão capaz de defender a generalidade dos portugueses da desinformação, do sectarismo, do culto da ignorância e capaz de fornecer informação rigorosa e conhecimentos úteis
Lutemos para que um dia não venhamos a parafrasear Churchill ( "os paises não têm amigos, têm interesses" ) reconhecendo que " os nossos media não tem o povo por amigo,só têm interesses"
Lisboa, 20 de Março de 2012
F. Fonseca Santos
Post Scriptum::
Há semanas surgiu uma controvérsia sobre o novo
processo de medir as audiências dos canais de TV.
Este novo processo tem sido muito desfavorável à
RTP. Neste caso o que me parece mais incrível é o
facto ( segundo ouvi dizer na RTP1) de o novo
método, escolhido por ser o mais barato, ser o tecnicamente mais imperfeito ! Num assunto em que estão em jogo milhões de euros em publicidade, o mínimo que se pode dizer do critério de escolha é que é muito "peculiar".

0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial