quarta-feira, 28 de março de 2012

"...VENHA DAR UM TIRINHO ! "

Quando eu era jovem, tanto na Feira Popular de Lisboa como nas feiras populares de outras cidades e vilas havia sempre uma ou várias barracas de tiro ao alvo, onde raparigas ou mulheres vestidas com alguma garridice procuravam atraír clientes dizendo " Psst, psst ó cavalheiro simpático venha cá dar um tirinho!" E se o cavalheiro, simpático ou não, estava pelos ajustes, isso poderia ser o início duma (muito) efémera convivência.
Porque me lembrei disto agora ? Por estar um tempo que faz lembrar a época das feiras ?
Não propriamente : foi por ter ouvido o comentador, analista, etc. e Professor Universitário Marcelo Rebelo de Sousa, num dos seus programas dominicais, recomendar aos seus correligionários políticos que "terminassem com o tiro ao Cavaco".
O que é que ele, com esta frase meio humorística, queria dizer ? Para quem tem a sorte de não ligar à política nacional ( por já saber, com a sabedoria de
séculos, que são sempre os mesmos a ganhar e os mesmos a perder ), a frase destinava-se aconselhar os seus amigos a não criticarem o Presidente da República por umas coisas que este tinha dito ou feito.
A sua prece foi escutada, mas como os portugueses gostam de "dar tirinhos", continuaram no mesmo desporto, voltando aos alvos anteriores - o ex- primeiro ministro José Sócrates ( JS ) e as políticas dos seus governos - e adicionando outro : a maioria dos ex-ministros do seu último governo.
Aparentemente, JS conseguiu realizar aquilo que era um dos ideais de Salazar : um estado unitário e
corporativo.
Na altura, embora tenha sido concretizada no papel,
salvo erro, a corporação do comércio, não me lembro de a mesma ter alguma influência na vida política.
Mas no tempo de JS, a união das corporações dos ofícios teve uma influência muito grande na guerra
política que foi movida ao PM, apesar da maioria absoluta no Parlamento. Ou talvez por isso mesmo atingiu muitas vezes um carácter de ataque pessoal. De facto os corporativos não aceitaram nem de bom nem de mau grado que alguns dos seus privilégios fossem postos em causa, por razões de modernização do país e de maior eficiencia no funcionamento das instituições.
E a perseguição continua ( vai um tirinho cavalheiro simpático ? ), mesmo que o senhor esteja
afastado da política. Será que ainda têm medo do seu regresso ?
E o ataque às políticas do anterior governo tambem é constante. Quando há qualquer embaraço a uma pergunta da oposição ou dos jornalistas, muitas vezes os ministros recorrem à citação das circunstâncias que herdaram.
No dia 28 de Março o Secretário Geral do PS fez no jornal Público, através dum artigo de opinião muito bem elaborado, a defesa da política seguida na educação pelos governos de JS.
E acho que o PS tinha obrigação de explicar ao país, através duma narrativa bem documentada e facilmente compreensível, o que foram as realizações nos diversos aspectos da vida que interessam verdadeiramente aos portugueses : a segurança social, a educação, a saude, a economia e o emprego, o esforço de modernização do estado, o esforço na redução do deficit do estado ( bem sucedido até sermos atingidos pela grande crise financeira internacional ), o esforço suplementar feito em resultado da deslocalização ou fecho de empresas multinacionais, consequência da mesma crise, o auxílio às exportações ( detalhando o trabalho da AICEP ), etc.
Com isto não estou a dizer que foi tudo bem feito.
É evidente que não, pois a imperfeição é própria do Homem. Mas os portugueses têm o direito de saber a verdade, ou pelo menos de saberem como os diferentes actores políticos e sociais vêm o passado recente e daí tirarem as suas conclusões. 
Dizem que vingança é o prazer dos deuses! Se a frase corresponde a uma verdade, então talvez possamos compreender os que agora se querem vingar : é que provavelmente têm a pretensão de ser deuses naquilo que fazem ou opinam!

F. Fonseca Santos

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