quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A VENDA DOS CTT

Hoje em dia nós, os que nos julgamos civilizados porque vivemos numa cidade e dispomos de internet e de e-mail, já não nos lembramos – ou nunca chegamos a saber - o que é estar ansiosamente à espera que o correio nos trouxesse uma carta. Não temos essa ligação afectiva e não podemos sentir a importância da chegada do carteiro com a sua mala às costas, trazendo notícias que poderiam ser boas ou más. Em geral já não sentimos os CTT como parte da nossa vida, como um serviço que é nosso, que pertence a todos nós, e que nos liga aos outros e ao mundo.
Mas para aqueles mais idosos, que vivem em povoações relativamente isoladas e semi-desertas, o correio ainda é um elo de ligação com o mundo e o veículo que lhes traz, por exemplo, a pensão ou a data da marcação duma consulta médica. Por isso já é uma maldade grande fecharem alguns ( ou bastantes ) postos de correio, obrigando as pessoas com falta de mobilidade e falta de dinheiro a deslocações a que não estavam habituadas. Dir-me-ão, os decisores, que é a racionalização dos serviços, que é o progresso !   No fundo, penso eu, talvez seja uma manobra para tornar os CTT mais apetecíveis aos preciosos eventuais compradores. Mas como não traz mais facilidades à vida daquelas pessoas, trata-se sem dúvida dum retrocesso
Nesta altura, já algumas pessoas que eventualmente leram este texto até aqui, terão pensado : cá está um sentimentalão de outras épocas a não compreender que tudo tem custos e que estes devem ser minimizados.
É verdade tudo tem custos, embora haja coisas muito mais importantes que o dinheiro, mas se nos dermos ao trabalho de ir ler ( no portal dos CTT da internet ) os relatórios e contas dos últimos anos verificamos o seguinte :
ANO                         DIVIDENDO DISTRIBUIDO AO ACCIONISTA ( O ESTADO PORTUGUÊS )
2009                         56 MILHÕES DE €
2010                         36 MILHÕES DE €
2011                          53,8 MILHÕES DE €
2012                          38,5 MILHÕES DE €
Quem for da arte pode ir ver os ratios sobre o capital social , sobre o capital empatado e deliciar-se com esses e outros detalhes.
Mas o que ficou acima escrito permite dizer que os CTT são uma empresa rentável, que dá dinheiro ao accionista ( ou seja a nós todos portugueses ) e que portanto não há nenhuma razão de ordem económico-financeira que justifique a sua venda a terceiros. Pelo contrário, vai privar o Estado dum rendimento certo em troca duma quantia que apenas servirá, permitam-me a expressão, para pagar um cagagésimo da dívida. E para transferir rendimentos de todos nós para alguns !
 F. Fonseca Santos
21 AGO 2013

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